Na faculdade um professor me questionou uma vez: “Claudio, capoeira é esporte, jogo ou brincadeira?”
Vi-me surpreendido e respondi que era um jogo e ao gaguejar fui interrompido – “Pois se é um jogo como se sabe o vencedor?”
Ficou claro que este Doutor em Ed. Física não queria debater o assunto de forma aberta, mas sim promover conceitos de sua hipótese a respeito da capoeira e Ed. Física, então eu calei.
Hoje muitos anos depois fiquei pensando o que responderia.
Como a capoeira se encaixaria nos conceitos que vi na faculdade?
Bom, capoeira é atividade física, certo? E a música é só acompanhamento? Afinal, os alunos devem aprender a cantar e tocar?
Então, é uma expressão artística com musicalidade e dança?
Mas rasteiras, cabeçadas e meias-luas executadas de forma objetiva tentando armar um bote no companheiro não fazem referência à arte e sim a um jogo, certo?
Jogar, realmente contém a ideia de um vencedor, e a diferença para o esporte ou esporte de alto rendimento é a estrutura envolvida, mas alguém tem de vencer. Entretanto na, na maioria das vezes, os capoeiristas saem da roda ambos como vencedores; alegres e dispostos à confraternizar.
Então é uma brincadeira, que, até tem um objetivo, mas não dá tanta ênfase ao vencedor?
Não quando pensamos que seus movimentos foram desenvolvidos como uma forma de defesa pessoal, tão eficientes que os capoeiras foram a linha de frente nos combates corpo a corpo na guerra do Paraguai.
Então, capoeira é luta marcial, certo?
Nesse momento, fica-me claro que, a capoeira não atende aos conceitos acadêmicos. Ela é livre como a vida. Capaz de se adaptar a diferentes situações. A capoeira é tudo e nada, ao mesmo tempo, pois ela é o que fazemos dela.
Talvez a maior beleza da capoeira esteja naquele momento ao pé do berimbau em que um olhar ou um gesto declaram a intenção de cada um. Se vai ser brincadeira, dança ou jogo, vai depender do acordo dos dois num olhar, num gesto ou numa canção.
Prof. Claudio Souza Romeu
